quinta-feira, 31 de maio de 2012

ATUALIDADE GUINÉ-BISSAU


Presidente de Transição confere posse aos restantes membros do governo


Bissau (Fonte: RDN) - O Presidente da República de transição ( PRT), conferiu posse segunda-feira aos restantes membros do governo.

Tratam-se de Abubacar Demba Dahaba, ministro das Finanças e Idelfrides Fernandes, Secretário de Estado das Comunidades.

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CEDEAO e CS da ONU voltam a analisar em Abidjan situações na Guiné Bissau e no Mali

Bissau (Fonte: RDN) – A CEDEAO e o Conselho de Segurança (CS) da ONU, voltaram a analisar segunda-feira, em Abidjan, as situações na Guiné Bissau e no Mali à luz dos últimos desenvolvimentos políticos.

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Seiscentos militares e polícias da força de alerta da CEDEAO desembarcam em Bissau

Bissau (Fonte: RDN) - Seiscentos militares e polícias da força de alerta da CEDEAO (ECOMIB) já estão no país.

Um contingente desembarcou segunda-feira no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, de Bissau, composto de 16 militares e 43 agentes da polícia nigeriana, que vão juntar-se aos restantes elementos já no terreno, para assegurar a estabilização do país e apoiar as reformas no setor da defesa e segurança durante o ano de transição política.

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Trabalhadores da função pública retomam atividade e salário de um mês está a ser pago

Fonte: Lusa - A Função Publica guineense retomou a sua atividade normal na segunda-feira, numa altura em que está a ser pago um mês de salário aos funcionários, constatou a agência Lusa.

Após cerca de dois meses de paralisação laboral motivada pelo golpe de Estado de 12 de abril, a maioria dos funcionários públicos guineenses regressou hoje ao seu posto de serviço e está a receber o ordenado do mês de abril.

Fonte do Ministério das Finanças disse à Lusa que todas as instituições estatais receberam o dinheiro correspondente aos seus funcionários desde sábado para pagar o ordenado do mês de abril e só não se pagou o mês de maio por uma questão técnica.

A mesma fonte do Ministério das Finanças adiantou que ainda no decurso desta semana os funcionários públicos vão receber o ordenado do mês de maio.

A Lusa constatou em várias repartições públicas que de facto os funcionários estavam a receber o ordenado e que retomaram o serviço em grande número.

Na sexta-feira, os líderes dos dois principais sindicatos do setor apelaram aos funcionários do Estado para que regressassem hoje o trabalho, e a partir de Lisboa, Portugal, o primeiro-ministro do Governo deposto, Carlos Gomes Júnior, fez também o mesmo apelo.

Entretanto, um porta-voz do Sindicato dos Professores (Sinaprof) disse que apesar do apelo ao regresso ao trabalho, os docentes contratados, reintegrados e novos ingressos no sistema educativo público não irão retomar a docência.

João Ndami explicou que aqueles professores reclamam o pagamento de cinco meses de salários pelo que, disse, mesmo com o apelo do presidente do Sinaprof não vão voltar a dar aulas enquanto não forem pagos.

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Professores contratados, reintegrados, doentes e de novo ingresso ameaçam boicotar aulas nas escolas públicas

Bissau (Fonte: RDN) – Professores contratados, reintegrados, doentes e de novo ingresso ameaçaram segunda-feira boicotar as aulas nas escolas públicas caso o governo não pague seus salários em atraso.

Os professores dizem, que não retornarão à sala de aulas pelo facto de terem sido mais uma vez excluídos da folha de pagamento de salários feito pelo atual governo.

Esta decisão dos professores, que reivindicam o pagamento de três meses de salários em atraso, foi tornada pública no final de uma reunião.

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BAD suspendeu todas as operações na Guiné-Bissau

Fonte: Lusa - O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) suspendeu todas as operações que desenvolvia na Guiné-Bissau, na sequência do golpe de Estado de abril que derrubou o Governo do país, disse à Lusa fonte da instituição.

"A situação política está um pouco instável e nós, de momento, parámos os projetos operacionais", disse Cristina Hoyos, especialista do BAD em políticas para os Estados frágeis africanos, falando à margem da assembleia anual da instituição, que arrancou hoje em Arusha, Tanzânia. "Estamos à espera que a situação seja normalizada para continuarmos a colaboração", acrescentou Hoyos.

Na Guiné- Bissau, o BAD desenvolve vários projetos como a construção de um porto de pesca na capital e o apoio a um hospital pediátrico e, em 2011 lançou a estratégia de redução da pobreza no país, em colaboração com o Governo deposto pelo golpe militar de abril deste ano.

Em janeiro, o BAD aprovou a concessão de ajuda ao alívio da dívida da Guiné- Bissau, no âmbito da iniciativa Países Pobres Fortemente Endividados, no valor 60,4 milhões de dólares (48,5 milhões de euros).

No relatório Perspetivas Económicas em África 2012, lançado segunda-feira em Arusha, considera-se que o flagelo da contínua instabilidade política compromete o crescimento da economia na Guiné- Bissau. Assim, as mesmas projeções apontam para que a taxa de crescimento do PIB passe de uns estimados 5,1 % em 2011 para 4,6% em 2012, e a inflação caia de 4,6 % para 3,4 % no mesmo período.




INTERVENÇÃO MILITAR NA GUINÉ-BISSAU? SIM, MAS POR QUEM?

Afinal, quase dois meses depois do golpe militar na Guiné-Bissau, onde estamos? Os golpistas continuam no poder, os líderes eleitos estão refugiados em embaixadas na capital do país ou no estrangeiro, as organizações internacionais não se entendem, todos ameaçam, mas ninguém quer intervir decisivamente.

Por: Miguel Machado

Neste tempo, Portugal e algumas organizações internacionais, das Nações Unidas (ONU) à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), passando pela União Europeia (UE) e pela Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), condenaram o golpe e, em patamares de violência verbal variáveis, ameaçaram o novo poder local. Resultado? Mais uma vez se prova que a retórica politica quando não é suportada por força militar credível…cai no ridículo.

Do inicial tom ameaçador do Ministro dos Negócios Estrangeiros português, à tomada de posse do Coronel-Maior Gnimanga Baro do Burkina Faso como comandante da força multinacional da CEDEAO para intervenção na Guiné - com 1 batalhão de 600 militares para quê? Ocupar um bairro de Bissau? - vimos de tudo. Em Portugal, após a precipitação inicial parece que a realidade foi percebida e o tom baixou. Centramo-nos, e bem, na eventual retirada dos nossos compatriotas, embora com uma politica de comunicação algo confusa, senão perigosa.

As Nações Unidas pedem dinheiro para uma eventual força, a União Europeia fica-se por sansões de duvidosa eficácia e a CEDEAO parece afinal pactuar com a revolta (sempre sai mais barato e é menos arriscado!).

Mas quem poderia afinal intervir na Guiné-Bissau? Admitindo que se conseguia algum consenso político regional - o que até agora não aconteceu - e que se queria realmente estabilizar a Guiné-Bissau, quem tem essa capacidade?
Se o objectivo fosse lançar rapidamente uma operação com probabilidade elevada de sucesso, ou seja, “entrar em força para ganhar” (tipo NATO na Bósnia em 1996/60.000 militares ou a INTERFET em Timor-Leste em 1999/11.500 militares), só os países da NATO e/ou da União Europeia têm essa capacidade. As Nações Unidas, como é sabido (ou devia ser) só em condições muito especiais aceleram os seus intrincados mecanismos de decisão.

Talvez poucos hoje se lembrem, mas em 2006 a Aliança Atlântica realizou o exercício “Stead Fast Jaguar” (SFJ) em Cabo Verde. Bem perto da Guiné-Bissau portanto, para fazer a “validação final” da sua Força de Reacção Imediata, a célebre NRF que nunca actuou mas está em permanente alerta deste então. Forças portuguesas estão ciclicamente incluídas nestas NRF’s o que aliás custa bom dinheiro.

Nesse SFJ em 2006 mais de 7.000 militares, navios e aeronaves de todo o tipo, realizaram várias acções em diferentes ilhas, tendo desembarcado cerca de 2.500 militares e 600 veículos. Tudo isto com a cobertura mediática de dezenas de jornalistas levados para Cabo Verde em voos especiais da NATO.

Só falta, portanto, convencer a NATO a intervir, mas haverá capacidade para provar aos nossos aliados essa necessidade? Talvez se devesse ter começado por aí.

Este artigo foi originalmente publicado no “Diário de Notícias” em 28 de Maio de 2012.

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