segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Petroleiro panamiano apresado por vender combustível ilegalmente

Um petroleiro com a bandeira do Panamá foi apresado pela fiscalização marítima da Guiné-Bissau sob acusação de venda ilegal de combustível no alto mar, anunciou hoje o director da entidade que fiscaliza as águas territoriais, Hugo Nosoliny.

Segundo Nosoliny, o navio Virgínia G, foi surpreendido quando efectuava venda de gasóleo aos navios de pesca, a cerca de 60 milhas náuticas da costa da Guiné-Bissau, uma actividade considerada ilegal pela legislação guineense.

O petroleiro, com 11 tripulantes a bordo, oito de nacionalidade cubana e três do Ghana e ainda um cidadão de Cabo Verde, foi conduzido para o porto de Bissau, onde se encontra ancorado sob custódia da Marinha de Guerra.

De acordo com o coordenador da Fiscap (entidade do governo que fiscaliza as águas territoriais guineenses), a legislação em vigor prevê que o produto transportado fica para o Estado, já que a embarcação foi capturada numa actividade para a qual não tinha licença.

Em Abril de 2009, um pesqueiro português, o "Ria Mar" foi apresado pela Fiscap sob a alegação de utilização de malhagem não declarada para a pesca do camarão, acabando o navio por ser libertado mediante o pagamento de uma multa de 150 mil dólares.

Em relação ao petroleiro de bandeira do Panamá, Hugo Nosoliny explicou que o armador informou que o navio, cujos donos estariam na cidade espanhola de Sevilha, se dirigia para a Nigéria onde ia buscar carga para Europa.

"São navios piratas que andam a prejudicar a economia nacional e, nós como responsáveis pela fiscalização das nossas águas temos que lutar contra esses navios. Segundo a lei, o navio que não tiver licença para essa operação (venda de combustível no alto mar) deve ser confiscado a favor do Estado", destacou Hugo Nosoliny.

O coordenador da Fiscap sublinha, no entanto, que a decisão final sobre que tipo de sanção a ser aplicada caberá à Comissão Interministerial (que engloba os ministérios da Defesa, das Finanças e das Pescas) que deverá reunir-se em breve.

Nosoliny adiantou, por outro lado, que a Fiscap já informou o Ministério Público do caso sobretudo para que este mande averiguar se não existe alguma ligação de alguém em terra com os navios que operam nas águas territoriais guineenses.

"É estranho que sempre que temos casos semelhantes de navios capturados em operações ilegais, aparecem representantes desses navios aqui no país. É preciso ver estas ligações", defendeu o coordenador da Fiscap.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Remodelação do governo após investidura de Presidente da República

O Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, anunciou hoje que vai remodelar o governo após a investidura de Malam Bacai Sanhá no cargo de Presidente da República (PR), no dia 8 de Setembro, "para dar coesão" ao executivo.

Após uma reunião do Conselho de Defesa Nacional, que serviu para o Presidente interino Raimundo Pereira se despedir dos presentes, Carlos Gomes Júnior disse que a projectada remodelação governamental deve ser encarada com naturalidade.

"É como numa equipa de futebol, os jogadores são substituídos no decorrer do jogo, outros saem e outros entram", afirmou o Primeiro-ministro guineense aos jornalistas , explicando ainda que as mudanças visam manter a credibilidade e a dinâmica no país.

"A remodelação visa manter a credibilidade do país e manter a mesma dinâmica governativa, porque cada ano que passa são novos desafios que enfrentamos e assim temos que caminhar, pouco a pouco, remodelar a equipa governativa", defendeu Carlos Gomes.

O Primeiro-ministro anunciou que vai consertar com o novo Chefe de Estado logo que este seja investido no cargo, no dia 08 de Setembro, sobre as remodelações que pretende efectuar no seu governo que " tem um compromisso de quatro anos com o povo da Guiné-Bissau e a comunidade internacional"-disse.

Durante a campanha eleitoral para as eleições presidenciais antecipadas realizadas no passado mês de Junho, o Primeiro-ministro guineense tinha afirmado que poderia vir a assumir, cumulativamente, as funções de ministro do Interior porque a actual liderança daquele ministério não estava a responder aos desafios que lhe fazem frente.

Bebé guineense morre após mutilação genital feita pela mãe

Uma criança guineense de três meses morreu após hemorragias provocadas pela prática de mutilação genital a que foi submetida pela própria mãe, contra a vontade do pai, disse à Lusa fonte oficial.

De acordo com Iracema do Rosário, presidente do Instituto da Mulher e Criança (IMC, instituição do Governo), o caso registou-se segunda-feira no bairro de Quelelé, em Bissau, quando uma mãe, contra a vontade do pai, submeteu a filha a excisão. A criança, de três meses, acabou por falecer poucas horas depois por não ter resistido às hemorragias.

A presidente do IMC, que alerta para o facto de a Guiné-Bissau ainda não possuir legislação que possa punir actos do género, diz já ter iniciado as diligências para informar a ministra da Solidariedade e Família, bem como a Procuradoria-Geral da República, sobre o caso.

"É um facto condenável, por isso há toda a necessidade do comité de luta contra práticas nefastas (na sociedade guineense) actuar rapidamente. Vou já informar a senhora ministra da Solidariedade e Família, que tutela o nosso instituto, também vamos informar a Procuradoria dos menores, Ministério do Interior e o Parlamento, sobre o que se passou", adianta Iracema de Rosário.

A presidente do IMC entende que o país deve trabalhar rapidamente no sentido de se adoptar uma legislação que possa punir práticas semelhantes e que são frequentes na Guiné-Bissau.

Por seu turno, o coordenador da Liga Guineense dos Direitos Humanos na região de Bissau, Gentil Sanca, considera a mãe da criança falecida "a mãe mais criminosa do século XXI".

"A atitude desta mãe é condenável. Podemos dizer que esta mulher é a mãe mais criminosa do século XXI. O mais grave é que quando a criança começou a perder sangue não foi levada ao médico pela própria mãe", sublinha Gentil Sanca, responsabilizando o Governo pela "inércia" na adopção de medidas contra estas práticas.

"A Liga está muito preocupada com práticas destas. Há muito que a Liga se tem pronunciado contra estas práticas, recomendando ao Governo a adopção de medidas contra estas situações, porque não é tolerável que continuemos a assistir impávidos a actos do género", acrescenta o responsável pela Liga dos Direitos Humanos em Bissau.

"O Governo devia tomar medidas urgentes e enérgicas", acentua ainda Gentil Sanca.

O caso também mereceu a condenação por parte da Associação de Direito das Crianças (ADC). Segundo Quintino Nosoline, porta-voz da ADC, o que aconteceu no bairro de Quelelé "é um acto criminoso" que deve ser "severamente punido pela justiça".

sábado, 22 de agosto de 2009

Secreta guineense descontente com atitude do Ministério Público

Bissau – Coronel Samba Djaló garante que os dois deputados ilibados de suposta implicação na tentativa de Golpe de Estado estão livres de qualquer suspeita, e reafirma que houve uma verdadeira intenção de alteração da ordem constitucional no país.

O Director Geral adjunto dos Serviços de Informação de Estado e da Inteligência Militar da Guiné-Bissau, Coronel Samba Djaló, garantiu em Bissau, que os deputados Conduto de Pina e Roberto Ferreira Cachéu, ilibados pelo Ministério Publico da acusação da tentativa de Golpe de Estado, estão livres e podem circular sem qualquer restrição por parte de serviço de informação de Estado.

Em declarações a PNN o oficial da secreta guineense disse que até a hoje a sua instituição não teve qualquer informação do Ministério Publico sobre os resultados de audição feito aos referidos.

Convicto de que houve verdadeira intenção de alteração da ordem constitucional no país, Samba Djaló apresentou, durante a entrevista à PNN, algumas provas documentais da tentativa de Golpe de Estado, onde estão expressos nomes de algumas figuras públicas do país e políticos supostamente envolvidos na «intentona».

Relativamente a ordem de detenção de Conduto de Pina, a 15 de Agosto, afirmou ter convocado o deputado a título particular para este prestar algumas declarações sobre a posição assumida nos órgãos de comunicação social no dia anterior. Declarações que segundo Samba Djaló teriam, na altura, provocado um mal-estar no seio das Forças Armadas.

Em relação à presença de militares nas Instalações da Igreja Católica em Bissau, quando pretendiam deter o deputado Francisco Conduto de Pina, o Director adjunto do Serviço de Informação de Estado e da Inteligência Militar disse ter já pedido desculpas a Missão Católica sobre o ocorrido.

Sumba Nansil

domingo, 16 de agosto de 2009

Guine-Bissau: Dois deputados ilibados da tentativa de Golpe de Estado

Os deputados Conduto de Pina e Roberto Ferreira Cacheu, dois dos arguidos de tentativa de Golpe de Estado em Junho foram ilibados pelo Ministério Publico

A decisão foi comunicada ao parlamento guineense pelo Ministério Público (MP), através de uma carta datada de 6 de Agosto do Procurador-geral da República, Luís Manuel Cabral, endereçada ao Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Serifo Nhamadjo.

Segundo o documento «Francisco Conduto de Pina e Roberto Ferreira Cacheu, ambos deputados da nação e acusados de cumplicidade na tentativa de alterar a ordem constitucional no país, em Junho de 2009, foram ilibados destas acusações». O processo foi desencadeado após uma «acusação» dos Serviços de Informação de Estado que levou a Procuradoria-geral da República a convocar os dois deputados citados e a criação de uma comissão pela Assembleia Nacional Popular com a missão de «averiguar em que circunstancias é que estas pessoas e mais outras, por sinal deputados, se teriam envolvidos na alegada tentativa do Golpe de Estado»

Em entrevista à PNN, Francisco Conduto de Pina, deputado ilibado esta sexta-feira, reafirmou a sua inocência. «Não sou homem para golpes. Sou homem para desenvolvimento, trabalhar pela paz, pelas crianças e não para matar. Sou inocente, reafirmo que sou inocente», sublinha este deputado e empresário.

Por definir ficam ainda os processos de Daniel Gomes, Marciano Silva Barbeiro, ambos deputados, Sandji Faty, Secretário-geral do PRID, Partido Republicado para Independência e Desenvolvimento, Afonso Té, ex-vice Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, no período que antecedeu a guerra de 7 de Junho de 1998 e Domingos Indi, oficial das forças armadas. Informações disponíveis, apontam que encontram-se em Dakar onde está prevista uma deslocação da Comissão criada pela Assembleia Nacional com o objectivo de ouvir os nomes envolvidos no caso, antes que sejam inquiridos pelo Ministério Público.

Lassana Cassamá / Sumba Nansil

Malam Bacai Sanhá em visita privada a Cabo Verde

O Presidente eleito da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, encontra-se na ilha cabo-verdiana do Sal para uma semana de descanso, antes de tomar posse a 8 de Setembro como novo chefe de Estado daquela nação lusófona, revela a PANA citando fonte oficial.

Apesar de a estada de Malam Bacai Sanhá coincidir com a da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, na ilha do Sal, nada está previsto sobre um eventual encontro.

Malam Bacai Sanhá, em declarações à Agência Cabo-verdiana de Notícias (Inforpress), afirmou que a sua estada na ilha turística cabo- verdiana ao mesmo tempo que Hillary Clinton é apenas "coincidência", mas admitiu que um encontro com ela seria "ouro sobre azul".

"Seria óptimo, mas penso que essa possibilidade está fora de questão", acrescentou.

Disse que após a sua tomada de posse como Presidente da Guiné-Bissau vai solicitar uma visita aos Estados Unidos.

"A política do Presidente Obama é muito interessante. Uma política aberta, sobretudo, diria, virada para a África", considerou.

Nesse momento crucial do processo político da Guiné-Bissau, disse esperar a solidariedade dos Estados Unidos e da comunidade internacional.

"A Guiné precisa, efectivamente, de uma ajuda significativa a nível económico, financeiro, social, aliás, tudo para poder sair da situação difícil em que se encontra", sublinhou.

Em anteriores declarações, o Presidente eleito bissau-guineense considerou que a importância do narcotráfico e a "má fama" da Guiné- Bissau neste domínio justificam a abordagem que a secretária de Estado norte-americana deverá fazer na visita a Cabo Verde.

"Nós temos a fama de sermos os maiores traficantes da droga ou a Guiné-Bissau de ser o maior centro de passagem de droga. Deve ter sido isso que motiva Hillary Clinton a falar da Guiné- Bissau na sua visita a Cabo Verde", dissera.

Malam Bacai Sanhá venceu a segunda volta das eleições presidenciais na Guiné-Bissau a 26 de Julho diante de Kumba Ialá.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guiné-Bissau: Advogado de defesa de Faustino Imbali denuncia prisão ilegal

Bissau – «A prisão preventiva decretada ao ex-Primeiro-Ministro, Faustino Imbali, e Domingos Sanhá, musico nacional, acusados da tentativa de Golpe Estado, no principio do mês de Julho passado, tentativa da qual resultou nas mortes de Baciro Dabó e Helder Proença, é ilegal» denunciou Silvestre Alves.

O advogado de Defesa atacou o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça publicado na sexta-feira, que valida a decisão do Juiz de Instrução Criminal (JIC) em manter os seus constituintes na prisão.

Silvestre Alvez disse que esta instância suprema da justiça guineense não levou em conta se os factos evocados pelo Ministério Publico que questiona se o suposto acto praticado pelos suspeitos é proporcional a decisão do JIC. O mesmo advogado põe em causa o argumento avançado pelas autoridades guineenses como os seus constituintes estariam a preparar para alterar a ordem constitucional. «Se o golpe de Estado é dado por via da força ou violência, como é que um civil pode o fazer? Eles não tinham armas», sublinhou.

Alvez revelou ainda que o seu constituinte apresenta problemas sérios de saúde, sobretudo dedos partidos, tratamento que segundo ele, seguindo informações dos médicos nacionais, requer um centro especializado. Mas, apesar de várias intervenções, o pedido não foi aceite pelas instâncias judiciais.

Lassana Cassamá

Director-geral do Trabalho assassinado numa rixa em Bissau

O director-geral do Trabalho e Formação Profissional foi assassinado no domingo na sequência de uma rixa com os seguranças de uma loja de Internet, em Bissau, disse hoje fonte da polícia.

Segundo a mesma fonte, Vital Moreira Incopté foi atingido mortalmente com uma arma branca por um elemento de uma empresa privada de segurança na sequência de uma rixa.

De acordo com a fonte da polícia, o presumível autor do assassínio de Vital Incopté já está sob alçada judicial aguardando a formalização do processo que deve seguir para o tribunal.

Vital Incopté era um jovem quadro recentemente regressado ao país, após concluir os estudos superiores em Portugal, e costumava deslocar-se àquela loja de Internet no âmbito das pesquisas para a tese de mestrado que iria fazer brevemente.

Reagindo ao assassínio de Vital Moreira Incopté, o ministro da Função Pública, Trabalho e Modernização do Estado, Fernando Gomes, pediu "justiça severa" contra o autor do acto.

"Não há qualquer motivo para tirar a vida a um jovem quadro brilhante. Tem que haver justiça e punição severa para quem fez isto. Ainda não sei o que realmente se passou, mas nada justifica tal situação", defendeu Fernando Gomes.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos também já condenou este caso, prometendo acompanha-lo até que a "justiça seja feita".

domingo, 9 de agosto de 2009

Carlos Gomes Júnior esclarece «equívocos» com a Guiné-Conacri

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau afirmou ter esclarecido "todos os equívocos" que existiam por parte das autoridades da Guiné-Conacri que acusavam Bissau de facilitar acções desestabilizadoras no seu território.

Após o regresso de uma viagem de algumas horas à Conacri, na quinta-feira à noite, Carlos Gomes Júnior revelou ter mantido um encontro com o primeiro-ministro Kabine Komara com que esclareceu "todos os equívocos".

"Se há rumores de que as relações entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri não estão a correr bem, a nossa posição enquanto Governo é de ir lá para esclarecer as coisas e pelos vistos o Governo da Guine-Conacri continua de braços abertos para a Guiné-Bissau, continuando a ser solidário com o Estado da Guine-Bissau", defendeu Carlos Gomes Júnior.

Embora não se tenha encontrado com o Presidente e líder da Junta Militar que governa a Guiné-Conacri, capitão Moussa 'Dadis' Camara, o chefe do Governo de Bissau disse que o encontro com o seu homólogo serviu para esclarecer os equívocos que persistiam.

Não houve ocasião de visitar o capitão Moussa 'Dadis' Câmara, devido a sua agenda carregada. Mas o objectivo da nossa visita foi alcançada", afirmou Carlos Gomes, sublinhando ter aproveitado a viagem para convidar Kabine Komara a assistir a investidura do Presidente eleito da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, no dia 08 de Setembro.

Recentemente o líder da Junta Militar que governa a Guiné-Conacri acusou países vizinhos de estarem a servir de santuário para indivíduos que pretendiam desestabilizar o seu país.

"Eu disse nunca poderia acontecer", assinalou Carlos Gomes Júnior.

"O Povo da Guiné Conacri e da Guiné-Bissau estão ligados por laços de sangue. Durante a nossa luta de libertação camaradas foram acolhidos e tratados fraternalmente", lembrou.

"Somos dois povos irmãos que lutaram juntos, com ideias comuns", enalteceu ainda Carlos Gomes Júnior.

"Sempre houve um bom relacionamento entre os nossos dois governos, nunca poderia haver um mau momento entre a Guiné-Bissau e a Guine-Coancri. Se houver algo que não corra bem, temos que nos sentar a volta de uma mesa e conversar, porque estamos condenados a trabalhar e viver juntos", referiu ainda o primeiro-ministro guineense.

Carlos Gomes Júnior anunciou, por outro lado, que a cooperação entre os dois países será brevemente analisado numa "Grande Reunião da Comissão Mista" a ter lugar em Bissau.

"A nossa intenção agora é realizar uma 'Grande Reunião da Comissão Mista" que terá lugar, brevemente, aqui em Bissau para analisarmos o nosso estado da cooperação e tentar reforça-la cada vez mais", disse Carlos Gomes Júnior.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Estado paga salários a três mil funcionários públicos «fantasmas»

O ministro da Função Publica da Guiné-Bissau, Fernando Gomes, denunciou hoje a existência de três mil funcionários em situação duvidosa e alguns sem vínculo laboral com o Estado mas que recebem salários há vários anos.

Em conferência de imprensa, Fernando Gomes fez o primeiro balanço do recenseamento biométrico dos funcionários públicos financiado pela União Europeia no âmbito do programa de reforma da Administração Publica da Guiné-Bissau.

"Antes do recenseamento, estimava-se que o total das pessoas a recensear atingiria um valor global de cerca de 18.700 pessoas", disse Fernando Gomes, ao demonstrar as "irregularidades" constatadas até ao momento.

Segundo o ministro da Função Pública, Trabalho e Modernização do Estado guineense, há situações em que os alegados funcionários não têm os nomes nem nos bancos de dados do Ministério das Finanças mas que recebem ordenados mensalmente.

"Há uma lista de pessoas cujos nomes não constam nem nas bases de dados da Função Pública nem do Ministério das Finanças mas que recebem salários todos os meses e há muitos anos", explicou, sublinhando, terem sido detectados "três mil funcionários nessas situações".

Fernando Gomes apontou ainda o caso dos ex-governantes que, embora não exercendo nenhuma função no Estado, continuam a receber salários respectivos há vários anos, o que, defende, contraria o espírito da lei.

"Os antigos governantes, ao abandonarem as funções no governo, passam a receber um subsídio equiparado ao de director-geral, mas terão que reunir alguns requisitos, por exemplo, deverão estar a trabalhar na administração pública. Mas o que constatamos é que vários desses antigos governantes não trabalham, mas todos os meses recebem o salário respectivo", declarou Fernando Gomes.

O ministro da Função Pública, avisou, contudo, que a partir deste mês de Agosto essa situação não voltara a ter lugar na Guiné-Bissau.

"Isso tem que acabar. A partir deste mês de Agosto nenhum desses antigos governantes terá direito ao salário se não estiverem a trabalhar efectivamente", afirmou Gomes.

O governante referiu-se também às situações de pessoas que recebem pensões vitalícias, mas que na realidade acabam por 'transmitir' esse direito aos filhos mesmo após a sua morte.

"Uma pessoa tem direito a essa pensão até à morte, mas o que se vê na realidade é: a pessoa morre, o filho vem e continua a receber e esse filho morre, vem um outro filho, assim sucessivamente. Quer dizer uma balbúrdia total. Que Estado é que pode suportar isso?" questionou Fernando Gomes, frisando que as irregularidades foram detectadas entre os funcionários civis e os paramilitares.

"Tinhamos a consciência de que a Administração Pública está mal, mas nunca imaginámos a profundeza de tal maldade. Cada vez mais ficamos surpreendidos com aquilo que constatamos no terreno", afirmou o governante.

Fernando Gomes caracterizou a Função Pública da Guiné-Bissau como "ineficaz, opaca, irresponsável, não transparente e que não presta um serviço de qualidade aos utentes", situações que o ministro pretende transformar.

Fonte: LUSA - Agência Portuguesa de Notícias

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Entrevista de Malam Bacai Sanhá ao PÚBLICO: Presidente eleito da Guiné-Bissau promete combate sem tréguas ao narcotráfico

O Presidente eleito da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, disse numa entrevista por e’mail ao PÚBLICO na segunda-feira, dia em que os resultados provisórios das eleições se tornaram definitivos, ter sido surpreendido na hora da vitória “com uma dose excessiva de emoção, que não conseguiu conter nem disfarçar". "Afinal de contas, os antigos combatentes também choram”, referiu Malam Bacai Sanhá, que tomará posse no dia 8 de Setembro.

O antigo Presidente interino de 1999/2000 gostaria de dizer que foi com naturalidade que encarou o triunfo sobre Kumba Ialá, “mas não foi". E explica: "O nível de ansiedade era bastante elevado, dado que já tinha experimentado grandes desapontamentos eleitorais [com as derrotas à segunda volta nas presidenciais de 2000 e de 2005].” Passada, porém, a fase da emoção, sentiu “o peso da responsabilidade dos números que lhe dão legitimidade e responsabilidade perante o povo, na mesma proporção”.

PÚBLICO - Confirmada a sua eleição, está pronto a trabalhar lealmente com o Governo saído das legislativas do ano passado?

Malam Bacai Sanhá - A lealdade e a fidúcia são pressupostos constitucionais do regular funcionamento das instituições da república que me caberá garantir. Não vejo quaisquer constrangimentos que possam condicionar o trabalho com o Governo de Carlos Gomes Júnior. Aliás, o Governo é nosso, é do PAIGC, partido pelo qual fui candidato, por isso ele terá o meu apoio pessoal e institucional para cumprir a legislatura, coisa que nunca aconteceu a um Governo constitucional.”

Pensa manter ou reformular o comando das Forças Armadas, chefiado pelo comandante Zamora Induta?

O nosso sistema é semi-presidencial, com um sofisticado equilíbrio de competências entre orgãos de soberania. Embora o Presidente da República seja o comandante em chefe das Forças Armadas, a escolha das chefias militares, nomeadamente o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, compete em primeira linha ao Executivo. Assim, o manter ou substituir as chefias militares é uma formulação a ser proposta pelo Governo. E qualquer juízo meu, antecipado, sobre essa matéria pode condicionar a acção do executivo, o que não gostaria de fazer

Como deve a Guiné-Bissau lidar com o problema da pobreza e dos salários em atraso?

A Guiné-Bissau não é um país pobre, é rico em recursos humanos e recursos naturais. É, isso sim, um país subdesenvolvido. O desenvolvimento do país é um desafio que requer o concurso de todas as forças vivas da nação. Por isso, estou empenhado em imprimir uma presidência aberta e de inclusão, onde todos, sem excepção, serão chamados a dar o seu contributo e a assumir as suas responsabilidades. É esta a fórmula, é este o segredo do sucesso.

Como pode o país deixar de ser conotado com múltiplos tráficos, incluindo o de droga, mas também outros?

A conotação é uma questão de imagem. Se é verdade que o nosso país é vítima desse fenómeno [tráfico de droga], não é menos verdade que a qualificação de “narco-Estado” é exagerada. Estamos cientes da existência do problema e estamos empenhados em encetar-lhe um combate sem trégua. Contudo, o sucesso do nosso esforço interno não é suficiente porque, por um lado, não temos meios suficientes e, por outro, o problema não é um exclusivo nosso. Requer uma acção concertada com os países vizinhos e a comunidade internacional. Só assim poderemos minimizar o seu impacto global. A Guiné Bissau não é um país de consumo, é um dos países por onde também passa a droga. Vamos empreender um combate sem tréguas a todos os tráficos nocivos à sociedade e às instituições.

O Presidente e o Governo guineenses vão conseguir manter boas relações com Portugal?

Portugal não é um mero parceiro no concerto das nações, é um país irmão com o qual partilhamos um passado comum. Por isso, entendo que manter as boas relações é pouco ambicioso, vamos intensificar e reforçar as relações quer a nível bilateral quer no plano multilateral, nomeadamente nos fóruns internacionais em que podemos e devemos ter acções concertadas com benefícios mútuos para os nossos países e povos.

E como será o relacionamento com Cabo Verde?

À semelhança do que acontece com Portugal, Cabo Verde está intimamente ligado por laços de sangue com a Guiné-Bissau. Por isso, o sentimento de irmandade que nutrimos fará com que tudo o mais nas nossas relações venha por acréscimo.

Jorge Heitor

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Guiné-Bissau: Guineenses recordam mártires de Pindjiguiti

Guiné-Bissau: Desmantelada rede de falsificação de passaportes CPLP tem estruturas sólidas e objectivos fortes» Guiné-Bissau: Suspeito de golpe de Estado foi libertado Portugal entregou a Bandeira dos III Jogos da Lusofonia à Índia Terceiros Jogos da Lusofonia a caminho de Goa Gripe A: OMS vai deixar de contabilizar casos individuais Jogos da Lusofonia: Portuguesas batem Moçambique Jogos da Lusofonia: São Tomé e Príncipe recebe medalha de bronze Bissau – Os trabalhadores guineenses assinalam esta segunda-feira o dia dos mártires de Pindjiguiti, dia em que, segundo relatos históricos, centenas de estivadores e marinheiros do Pprto com o mesmo nome, foram assassinados pelo então «patrão» colonial.

Em causa estava a reivindicação dos trabalhadores do cais, que exigiam um aumento de ordenado, o que não foi compreendido pelo patronato, culminando a discórdia em violência entre as duas partes.

Politicamente, a situação viria a ser aproveitada pelo PAIGC, partido que dirigiu a luta de libertação nacional, e que desencadeou, na altura, uma campanha de mobilização dos guineenses para se oporem ao colonialismo português. Aliás, este facto, serviu de cavalo de batalha para a criação de um maior sentimento de nacionalismo e revolta nos guineenses, que optaram por pegar em armas para conquistar a sua independência.

Hoje m dia, a data representa uma referência histórica do sindicalismo guineense, cujas organizações centrais juntam, todos os anos, os trabalhadores, depositam coroas de flores no monumento «Mártires de Pindjiguiti», junto ao cais do principal porto de Bissau, e promovem marchas com o objectivo de alertar o Estado, para os problemas que os funcionários públicos têm enfrentado ao longo dos tempos.

São ocasiões aproveitadas pelas centrais sindicais, como a UNTG e Confederação Geral dos Sindicatos Independentes da Guiné-Bissau (CGSI-GB) para apresentar aos governos, cadernos reivindicativos, espelhando o quadro geral do funcionalismo público guineense, desde os diagnósticos até às necessárias reformas na Administração.

Lassana Cassamá

sábado, 1 de agosto de 2009

Novo presidente e o candidato derrotado debatem futuro do país

O futuro Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o candidato derrotado nas presidenciais de domingo, Kumba Ialá, reuniram-se hoje numa unidade hoteleira da cidade de Bissau para debater o futuro do país.

“Foi um encontro entre dirigentes guineenses e um encontro que marca um passo decisivo na consolidação da paz e na reconciliação entre guineenses”, afirmou Malam Bacai Sanhá aos jornalistas, sem entrar em detalhes.

“Estivemos a conversar entre famílias, estivemos a falar da Guiné e estivemos a falar do futuro do nosso país e de chamar a nós mesmos a nossa responsabilidade de estabilizar este país rumo ao desenvolvimento”, destacou o próximo Presidente guineense.

Kumba Ialá, também líder do Partido de Renovação Social (PRS, oposição), afirmou concordar em “100%” com as afirmações de Malam Bacai Sanhá.

“Somos jovens e democratas, nós temos sempre a aprender com os nossos antigos combatentes”, disse.

“O que conta, como o senhor presidente acabou de afirmar, é a Guiné-Bissau, é a paz, é a estabilidade, porque nós precisamos de arrancar para o desenvolvimento”, afirmou Kumba Ialá.

Questionado pelos jornalistas se vai trabalhar com Malam Bacai Sanhá, Kumba Ialá afirmou que o iria fazer, porque é o seu Presidente.

“Naturalmente, é o meu Presidente, porque eu participei no processo eleitoral”, disse.

O primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, felicitou, por sua vez, Kumba Ialá pelo “gesto democrático de ter aceite o encontro”.

“Foi um encontro de irmãos e nós é que temos de ter a solução e responsabilidade de conduzir o nosso país”, destacou.

Questionado sobre se o Governo iria cumprir com as regalias previstas para o antigo chefe de Estado no Memorando de Entendimento, assinado no último final de semana, Kumba Ialá antecipou a resposta do primeiro-ministro.

“As regalias não são o mais importante, o mais importante é o país”, disse Kumba Ialá, recebendo o aplauso de todos os presentes.

Participaram também no encontro vários membros do Governo de Carlos Gomes Júnior.

Fonte: LUSA - Agência de Notícias de Portugal