domingo, 31 de maio de 2009

MORREU LUÍS CABRAL PRIMEIRO PRESIDENTE DA GUINE-BISSAU


Luís Cabral: Bissau 11 de Abril de 1931 - Lisboa: 30 de Maio de 2009

Luís Cabral, primeiro presidente da Guiné-Bissau independente, hoje falecido em Lisboa, há muito que deixou de fazer política, guardando, porém, um "ódio de estimação" ao "traidor" que o derrubou em 1980, "Nino" Vieira, assassinado em Março último.

Por José Sousa Dias
da Agência Lusa

Natural de Bissau, onde nasceu a 11 de Abril de 1931, Luís Cabral é uma das mais importantes personalidades políticas da Guiné-Bissau e nunca perdoou a João Bernardo "Nino" Vieira o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, localmente conhecido por "Movimento Reajustador", que o afastou da presidência que assumira sete anos antes, em 1973.

O antigo contabilista várias vezes afirmou ter sido traído pelo homem que, em 1978, nomeara primeiro-ministro, embora tenha deixado cair essa "bandeira" e desistido do regresso à política activa e ao seu país após as primeiras eleições gerais pluralistas guineenses de 1994, que deram a vitória a "Nino" Vieira e ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Já depois dessa desistência, acabou por regressar em 1999 a Bissau, "apenas para uma visita", precisamente na altura em que "Nino" Vieira já tinha deixado o poder, após os 11 meses do conflito político-militar de 1998/99.

A convite do então primeiro-ministro do Governo de Unidade Nacional (GUN), Francisco Fadul, o ex-presidente revisitou o país que já não via há 18 anos, mas deixou indicações claras de que o seu regresso a Bissau não implicaria um retorno à política activa.

Mas essa actividade política esteve presente na sua vida desde relativamente cedo, uma vez que Luís Cabral foi um dos mais próximos colaboradores do seu meio-irmão, Amílcar Cabral, o "pai" das independências da Guiné e Cabo Verde.

Em 1956, ao lado do seu meio-irmão e de vários outros destacados dirigentes, Luís Cabral foi um dos fundadores do PAIGC e um dos principais protagonistas da história da emancipação das colónias portuguesas em África, embora tenha estado sempre na "sombra" de Aristides Pereira, que foi secretário-geral do PAIGC e presidente de Cabo Verde.

A unidade entre a Guiné e Cabo Verde, país onde efectuou os seus estudos primários, era um dos ideais subjacentes à própria criação do PAIGC, que nunca acabou por ir por diante, projecto que morreu definitivamente com o golpe de Estado de 1980.

O "Movimento Reajustador" teve, na sua essência, o fim da ruptura entre duas realidades diferentes, com o assumir, por Bissau, de que quem mandava no território eram os guineenses e não os "burmedjus", os mestiços cabo-verdianos escolarizados que a Guiné-Bissau "herdou" da colonização portuguesa.

O assassínio de Amílcar Cabral, em Janeiro de 1973, em Conacri, cujos verdadeiros contornos são ainda hoje desconhecidos, levaria Luís Cabral, oito meses mais tarde, a 24 de Setembro do mesmo ano, à presidência da Guiné.

A chegada à chefia do Estado ocorreu após a proclamação unilateral da independência - lida em Madina do Boé (leste) pelo então presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento) das "Zonas Libertadas" pelo PAIGC, precisamente "Nino" Vieira -, e que só seria reconhecida oficialmente por Portugal cerca de um ano mais tarde, a 10 de Setembro de 1974.

Se as relações entre Aristides Pereira, na altura presidente de Cabo Verde, e "Nino" Vieira morreram após o golpe, as de amizade e admiração profunda entre o líder cabo-verdiano e Luís Cabral também azedaram quando ainda era incerto o destino do presidente destituído.

Em 1991, Luís Cabral lembrou esse episódio à imprensa portuguesa, recordando que, durante o seu exílio em Cuba (entre 1981 e 1983), escreveu várias vezes a Aristides Pereira sem obter resposta. A ideia era regressar a África, nomeadamente a Cabo Verde, na companhia da sua família, ao que Aristides Pereira se opunha.

A partida para Portugal só aconteceu depois de uma intervenção conjunta do então presidente português, general António Ramalho Eanes, e do governo de Lisboa, que lhe ofereceram o exílio, iniciado em princípios de 1984.

Contabilista de formação, Luís Cabral entrou em 1963 para o Comité de Luta, dois anos depois de ter fundado, em Conacri, a União geral dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), ainda hoje a principal central sindical do país.

Em Agosto de 1971, foi eleito para o secretariado permanente do Comité Executivo da Luta, com a responsabilidade de reconstruir as "zonas libertadas" pelo PAIGC na guerra pela independência (1963/74).

Eleito deputado à ANP pelo círculo de Bissau em 1971, assumiu, nesse mesmo ano, a direcção da luta na Frente Norte e, em Julho de 1973, no segundo Congresso do PAIGC, foi eleito secretário-geral adjunto do partido, sendo o "braço direito" de Aristides Pereira, depois de este assumir a herança de Amílcar Cabral, assassinado seis meses antes.

Já na Presidência guineense, Luís Cabral tentou impor uma economia forte no país, apoiada num modelo socialista que deixou a já de si frágil economia guineense arruinada.

Paralelamente, a repressão de um regime monopartidário musculado e a penúria alimentar também deixaram marcas e, apesar de sempre o ter negado, Luís Cabral foi acusado de ser o responsável pela morte de um importante número de soldados guineenses que combateram do lado português durante a guerra colonial.

ESTÁTUA DE CABRAL SAIU PELA PRIMEIRA VEZ DA AMURA


Guiné-Bissau: Estátua de Amílcar Cabral sai do quartel de Amura e é colocada na rua
26-05-09

A estátua de Amílcar Cabral, oferta do governo cubano, em 1985, saiu do quartel de Amura onde se encontrava desde então, para ser colocada numa praça ao lado do Aeroporto de Bissau. O acto inaugural aconteceu ontem, 25 de Maio, Dia de África, cumprindo-se assim um desejo do executivo de Carlos Gomes de Júnior de valorizar a figura do fundador da nacionalidade guineense. Um dos presentes no acto foi Iva Cabral, filha de Amílcar, que viajou de Cabo Verde para assistir a esta homenagem.

Oferta do governo cubano, a estátua de Amílcar Cabral estava no recinto do quartel de Amura, em Bissau, desde 1986, ano em que chegou ao pais. A decisão de colocar o monumento em lugar público foi promessa do actual primeiro-ministro e presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, de que caso eleito, no ano passado, iria resgatar e promover a memória de Amílcar Cabral.

Ao som do hino nacional, tambores e outros instrumentos folclóricos, notáveis políticos, diplomatas, membros da sociedade civil, religiosos e uma grande massa popular assistiram à cerimónia. A estátua, que tem 5,25 metros de altura, é de bronze e pesa duas toneladas. Foi colocada na entrada principal que dá acesso à capital guineense, junto ao Aeroporto Internacional «Osvaldo Vieira», escreve o jornalista Lassana Cassama.

Os familiares de Amílcar Cabral não faltaram à cerimónia. Iva Cabral, a filha do homem que dirigiu a luta pela independência da Guiné e Cabo Verde, não escondeu a sua satisfação. «É um marco importante. Um país sem história, deixa de ser país», disse. Para Fernando Delfim da Silva, estudioso e académico guineense, o acto representa uma «justiça histórica».

A cerimónia, que contou com a presença de Carlos Gomes Júnior, foi presidida pelo presidente da República Interino, Raimundo Pereira, que discursou no acto, realçando as qualidades humanas e politicas de Amílcar Cabral. A instalação da estátua custou ao Estado guineense 175 mil dólares.

A cerimónia culminou com a mudança do nome da avenida principal da capital, que passa agora a chamar-se «Combatentes da Liberdade da Pátria», substituindo assim o nome «14 de Novembro», alusivo ao dia em que Nino Vieira destituiu Luís Cabral em 1981, pondo assim fim ao projecto de unidade entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde.

ENCONTRO ENTRE ASGUI E AGRECAV NA PRAIA

Unir para Melhor servir a Comunidade
Havendo necessidade de fundir as duas Associações dos Guineenses Residentes em Cabo Verde, ASGUI e AGRECAV, tem sido promovido encontros entre altos dirigentes das mesmas. Hoje, 31 de Maio de 2009 às 10 horas, prossegue-se na cidade a Praia o segundo encontro onde poderão ser concluídos os pontos discutidos na primeira fase que teve lugar na cidade de Assomada.

No encontro de hoje estarão emcima da mesa a definição das condições para essa possível fusão, cujos os resultados beneficiarão a toda comunidade Guineense em Cabo Verde.

Asgui-Noticias soube que existe vontade de ambas as partes quanto a unificação, contudo ainda há pontos divergentes que são necessários ultrapassar.

A comunidade Guineense aguarda com grande expectativa os resultados que aprovarão a aturidade na resolução dum diferendo dessa natureza.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

VISÃO DE CARLOS VEIGA NA SEQUENCIA DOS ACONTECIMENTOS DE BISSAU

Guiné-Bissau: que comentário faz sobre a situação actual naquele país irmão?
Lamentável, triste e preocupante para quem goste da Guiné-Bissau e se sinta grato ao seu povo, como nós cabo-verdianos nos devemos sentir pelo contributo que deu para a nossa Independência.

Até que ponto Cabo Verde poderá servir de mediador naquele país, sabendo que o principal problema da Guiné-Bissau é o narcotráfico?

Primeiro, não creio que o narcotráfico seja o principal problema da Guiné-Bissau. A meu ver, o que acontece na Guiné-Bissau tem a ver com sucessivas lideranças do país e com o facto de os combatentes da luta armada de libertação nacional, primeiro, e os militares em geral, depois, não terem sido bem integrados na situação pós-independência e no regime democrático. Segundo, o narcotráfico não existe só na Guiné-Bissau, também existe em Cabo Verde, embora em menor escala. Terceiro, considero que os dirigentes do nosso país têm feito afirmações impróprias sobre a situação e os acontecimentos recentes na Guiné-Bissau. Quarto, a Guiné-Bissau não pediu a mediação de Cabo Verde, nem de ninguém. Assim, não vejo que Cabo Verde esteja particularmente talhado para qualquer mediação na Guiné-Bissau. Claro que Cabo Verde deve preocupar-se com a evolução da situação na Guiné-Bissau, acompanhá-la e estar bem informado sobre ela. E estar pronta para responder a qualquer solicitação da Guiné-Bissau, que esteja ao nosso alcance, porque somos gratos e porque lá vive uma comunidade cabo-verdiana antiga e bem integrada.

A morte de Nino Vieira e de Tagmé Na Waié são atribuídas, por Francisco Fadul, a um conluio entre o PM, Carlos Gomes Júnior, e o agora CEMGFA, Zamora Induta. Que comentários lhe inspira esta afirmação?
É muito grave e desprestigiante para o país, porque imputa assassínios políticos a actuais dirigentes do país. Seja verdade, ou não, deve motivar - como já motivou, aliás, - intervenção do Ministério Público. Exige uma resposta muito célere e esclarecedora da Justiça guineense, para que não fiquem duvidas e suspeitas e para que os efectivos autores materiais e morais dos referidos assassínios sejam encontrados e punidos. De outro modo, pode ser, como seria em qualquer outro país, um rastilho num barril de pólvora.