quinta-feira, 19 de abril de 2012

ACTUALIDADE DA GUINÉ-BISSAU

Serifo Nhamadjo, vice-presidente do parlamento até ao golpe de Estado de 12 de abril, será o futuro Presidente da República interino da Guiné-Bissau e Sori Djaló o presidente do Conselho Nacional de Transição

Daba Na Wana, porta-voz do Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau na semana passada, já tinha dito hoje à Lusa que enviou a proposta da nomeação daqueles dois ex-vice-presidentes da Assembleia Nacional Popular aos partidos políticos que formam o Conselho nacional de Transição.

Serifo Nhamadjo, do PAIGC (maior partido do país e no poder até há uma semana), concorreu as eleições presidenciais à revelia do partido e ficou em terceiro lugar na primeira volta de 18 de março com 15 por cento dos votos.

Após terem sido conhecidos os resultados eleitorais, com outros quatro candidatos derrotados, incluindo Kumba Ialá (presidente do PRS) que ficou em segundo lugar, contestou o escrutínio alegando fraude eleitoral.

Sori Djaló era também vice-presidente da Assembleia Nacional Popular e destacado líder do PRS, maior força da oposição na Guiné-Bissau.

Nas frequentes ausências de Kumba Ialá, era ele que conduzia os destinos do partido.

O novo Presidente da República interino da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, indicado após o golpe de Estado de 12 de abril, era um dos políticos menos conhecidos do país até desafiar o seu partido nas presidenciais que acabou por perder.

Discreto e por vezes parecendo tímido, Manuel Serifo Nhamadjo, que desempenhava o cargo de vice-presidente da Assembleia Popular Nacional, era conhecido sobretudo pelos amantes do futebol por ter sido presidente de dois clubes, o Benfica de Bissau e o Desportivo de Mansaba, e ainda por ter passado pelo cargo de dirigente da federação de futebol.

Na política, porém, apesar de ser membro e dirigente do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder) desde tenra idade, muitos guineenses desconhecem que Serifo Nhamadjo é deputado desde a primeira vez que se realizaram eleições multipartidárias no país, em 1994.

Foi sempre eleito deputado pelo PAIGC, partido com o qual se incompatibilizou, ao ponto de se ter apresentado como candidato independente às presidenciais de 18 de março por discordar da forma como Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro e líder do partido, foi escolhido para ser o candidato oficial.

"O método não foi nem justo nem transparente, por isso decidi apresentar-me diretamente ao povo guineense para que diga quem pode ser o melhor Presidente para o país", argumentava no dia em que anunciou a sua candidatura.

Passada a primeira volta das presidenciais, perdeu a aposta. Carlos Gomes Júnior ganhou a votação, o líder do PRS, Kumba Ialá, ficou em segundo e Serifo Nhamadjo em terceiro, com 15 por cento.

Após terem sido conhecidos os resultados eleitorais, com outros quatro candidatos derrotados, incluindo Kumba Ialá, contestou o escrutínio alegando fraude eleitoral.

O golpe de Estado realizado no passado 12 de abril voltou a colocá-lo na rota do poder, tendo sido hoje indicado para o cargo de Presidente da República interino, cargo anteriormente ocupado por Raimundo Pereira, que se encontra detido, tal como Carlos Gomes Júnior.

Com fama de dialogante, Serifo Nhamadjo, que completou 54 anos no dia 25 de março, elegeu "o combate aos males" que enfermam a sociedade guineense como o seu principal adversário se vencesse o escrutínio de 18 de março.

Nhamadjo assume-se como o herdeiro legítimo do legado político do Presidente guineense Malam Bacai Sanhá, falecido em finais de dezembro, de quem diz pretender prosseguir a senda da pacificação e da reconciliação. Aliás, até ao golpe, ele também era o presidente executivo da comissão da reconciliação nacional, um processo que fora patrocinado por Bacai Sanhá.

De etnia Fula, Manuel Serifo Nhamadjo é formado em contabilidade e análise em Lisboa. Foi até há poucos dias presidente interino do Parlamento guineense, substituindo o agora detido Raimundo Pereira.

O seu currículo diz que fala e escreve o português (muito bem), o francês e o inglês dentro de um nível do quadro europeu de referência (Cecr).

Homem de poucas falas, Nhamadjo, de confissão muçulmana, casado e pai de cinco filhos, destacou-se também por ter sido dos primeiros quadros do país a constituir uma empresa privada de construção civil, o "Nô kumpu" que em português significa (construamos).

A empresa ainda fez algumas obras públicas no país, mas deixou de existir há muitos anos.


O envio de uma força multinacional para a Guiné-Bissau mandatada pelo Conselho de Segurança da ONU pode ser concluído rapidamente, no prazo de uma semana, disse à agência Lusa a embaixadora do Brasil junto da ONU.

Maria Luiza Ribeiro Viotti, que preside à configuração Guiné-Bissau da Comissão da ONU para a Consolidação da Paz, falou à Lusa após uma reunião no Conselho de Segurança, em que o envio da força foi pedido pelo ministro guineense dos Negócios Estrangeiros, a par dos homólogos de Portugal e Angola, em nome da CPLP.

Segundo Viotti, a "constituição da força" ainda está por determinar, mas a sua missão é clara: a "proteção das autoridades civis, afirmar a restauração do poder civil".

Autoridades de transição rejeitadas na ONU

As autoridades de transição nomeadas na Guiné-Bissau foram prontamente rejeitadas, na quinta-feira, no Conselho de Segurança da ONU, onde Angola e Portugal apontaram como única saída o regresso às casernas pelos militares golpistas.

Caso contrário, disse à agência Lusa o ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, dentro de uma semana pode estar aprovada uma resolução do Conselho de Segurança, dando cobertura de um mandato da ONU a uma "força de interposição" multinacional "para a estabilização" da Guiné-Bissau.

"Não haverá autoridades transicionais, como nos estão a dizer agora. Existe um Governo, pessoas que estão presas, e essas pessoas é que vão continuar a governar a Guiné-Bissau e com essas pessoas é que vamos trabalhar", disse o ministro angolano.

Negociações sobre declaração do Conselho Segurança prolongam-se

A reunião de quinta-feira no Conselho de Segurança sobre a Guiné-Bissau terminou com apelos ao envio de uma "força de interposição" multinacional e acusações de ligação dos militares golpistas ao narcotráfico, mas sem a esperada declaração presidencial.

Após o 'briefing', o diplomata norte-americano Jeffrey DeLaurentis afirmou que, no período de consultas fechadas, o representante especial do secretário-geral, Joseph Mutaboba, alertou os países membros para "a seriedade da situação" na Guiné-Bissau.

"Avisou que, se fações civis se envolverem em confrontos, as baixas podem ser significativas", disse DeLaurentis, que presidiu à sessão em substituição da embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Susan Rice.











Sem comentários: