CEDEAO Reafirma o seu apoio ao processo de transição na Guiné-Bissau
Mas decide manter as sanções impostas à Guiné-Bissau até uma futura
revisão
Abidjan – Num relatório apresentado durante este fim-de-semana, os ministros
da Mediação e do Conselho de Segurança da CEDEAO decidiram apoiar o processo de
transição em curso na Guiné-Bissau. Mas, a cúpula exige o estabelecimento dos
demais órgãos da transição, incluindo a formação de um Governo de base alargada
de Unidade Nacional, e definir as tarefas urgentes e os prazos para a sua
execução durante a transição de doze meses.
Na sessão extraordinária de mediação e do conselho de segurança da CEDEAO, o
Presidente da organização exige o reatamento imediato das actividades da
Assembleia Nacional Popular para estender o seu mandato e eleger um novo
presidente.
Kadré Désiré Ouedraogo fez um relatório detalhado sobre a crise política
guineense, onde também pediu uma assistência financeira imediata à Guiné-Bissau
para atender algumas contingências, incluindo o pagamento de salários.
A CEDEAO também recomenda a revitalização do “Grupo Internacional de
Contacto” sobre o país para ajudar encontrar soluções para os problemas que
assolam a Guiné-Bissau depois do golpe militar de 12 de Abril.
A seguir é o relatório apresentado na sua íntegra pelo Presidente da
Comissão da CEDEAO, Kadré Désiré Ouedraogo:
CEDEAO – Relatório Sobre a Situações Política e de Segurança na
Guiné-Bissau
GUINÉ-BISSAU – RESUMO DOS ACONTECIMENTOS
Recorde-se que os militares na Guiné-Bissau derrubaram o Governo em 12 de
Abril de 2012, no mesmo dia em que o Conselho da CEDEAO estava a realizar a sua
última sessão extraordinária. Recordemos que o Comando Militar deteve o Sr.
Raimundo Pereira, o presidente interino, e o Sr. Carlos Gomes Jr.., o
primeiro-ministro, e interrompeu o processo eleitoral em curso para escolher um
Presidente para o país.
Desde então, a CEDEAO contactou as partes interessadas, particularmente o
Comando Militar, com vista à rápida restauração da ordem constitucional no
país. Os contactos foram realizados através de visitas e consultas para aplicar
as decisões da autoridade da CEDEAO sobre a situação. Os principais
desenvolvimentos desde o golpe de Estado no país são narrados como se segue:
- Após intensas discussão com uma delegação conjunta da CEDEAO-UA-ONU enviada para Bissau pelo Presidente da Autoridade em 16 de Abril de 2012, o Comando Militar deu um compromisso escrito de aceitar a restauração da ordem constitucional com base em modalidades a serem trabalhadas com a ajuda da CEDEAO.
- Apesar do compromisso, o Comando Militar passou à frente para assinar um acordo com alguns partidos políticos em 17 de Abril, que cria o chamado “Conselho Nacional de Transição”. CEDEAO rapidamente rejeitou o referido.
- Na Cimeira Extraordinária da CEDEAO em Dakar em 17 de Abril, a organização nomeou Alpha Conde, Presidente da Guiné, como mediador da crise.
- A Cimeira Extraordinária de 26 de Abril exigiu a criação de uma transição de doze meses com a facilitação da CEDEAO que levaria à restauração da ordem constitucional através de uma eleição presidencial, sob à pena de amplas sanções serem impostas sobre a Junta e sobre o país no prazo de 72 horas; A cimeira decidiu apoiar a recomendação do Conselho da CEDEAO para enviar uma Força de estabilização; nomeou um “Grupo de Contacto” regional composto pelos Chefes de Estado de sete Estados-membros e presidido pela Nigéria para acompanhar as decisões.
- Em 27 de Abril de 2012, a CEDEAO garantiu a libertação do primeiro-ministro e presidente interino, que, desde então, partiram para Portugal.
- No dia 29 de Abril, o “Grupo de Contacto Regional” reuniu-se em Banjul, a nível ministerial com todas as principais partes interessadas para lhes transmitir as decisões da Autoridade. Depois de mais de 12 horas de consultas, as partes não conseguiram chegar a um acordo. Como resultado, as sanções específicas e diplomáticas, económicas e financeiras entraram em vigor.
- A Cimeira Extraordinária de 3 de Maio de 2012 em Dakar definiu as modalidades para a transição de 12 meses no âmbito da Constituição da Guiné-Bissau.
- Em 4 de Maio, o Presidente do “Grupo de Contacto Regional” reuniu-se novamente com as principais partes interessadas com vista à implementação das decisões da Cimeira sobre a transição.
- No dia 7 de Maio, a Comissão da CEDEAO apresentou a posição da Região sobre a Guiné-Bissau no Conselho de Segurança da ONU.
2. SITUAÇÃO ACTUAL NA GUINÉ-BISSAU
Após as intensas negociações de 04 de Maio de 2012, outra missão do “Grupo
de Contacto Regional”, liderada pela Nigéria e com as participações das
autoridades políticas e militares da Nigéria e da Costa de Marfim, visitou
Bissau entre 10 e 11 de Maio, para continuar com as consultas. E não tendo
conseguido obter o acordo de todas as partes interessadas, a delegação decidiu
o seguinte:
I. Reconhecer o Sr. Manuel Serifo Nhamadjo, o Presidente
actual da Assembleia Nacional Popular, como Presidente Interino, nos termos do
artigo 71 da Constituição da Guiné-Bissau.
II. Dar poderes ao novo presidente provisório de realizar
amplas consultas para nomear um novo primeiro-ministro consensual.
Após dois dias de intensas negociações entre as partes interessadas em
Bissau entre os dias 15 e 16 de Maio de 2012, as partes aceitaram as decisões
da CEDEAO confirmando o Sr. Nhamadjo como presidente interino e também o Sr.
Rui Duarte de Barros, o actual Comissário UEMOA na área da Administração e de
Finanças, como o novo primeiro-ministro consensual.
Deve-se admitir, no entanto, que o maior partido político, o PAIGC, boicotou
as consultas e também rejeitou o acordo. O partido insiste na reintegração do
Governo derrubado e a conclusão do processo eleitoral.
A posição do PAIGC é apoiada por Portugal, Angola, e pela CPLP, que estao
actualmente envolvidos em numa intensa actividade diplomática no Conselho de
Segurança da ONU para restabelecer o governo deposto e assegurar uma resolução
para a implantação de uma “força da estabilização internacional”. Este grupo
também está pedindo a criação de um órgão de coordenação internacional sob à
liderança do Representante Especial das Nações Unidas na Guiné-Bissau.
A União Africana emitiu um comunicado apoiando plenamente a mediação da
CEDEAO.
Enquanto isso, em consonância com as decisões da Autoridade [da CEDEAO], as chefias
militares da CEDEAO mantiveram contatos com os militares em Bissau para o envio
da força da organização. Tendo obtido um pedido formal das novas autoridades do
país, o primeiro contingente de Unidades da Polícia de Burkina Faso chegáram à
Bissau no dia 17 de Maio de 2012. Espera-se para breve a chegada de
contingentes da Nigéria, Senegal e do Togo.
3. RECOMENDAÇÕES SOBRE OS PRÓXIMOS PASSOS URGENTES
De acordo com o exposto, a Comissão gostaria de apresentar as seguintes
recomendações para a consideração:
I. Aprovar o processo de transição em curso, exigir o
imediato reatamento da Assembleia Nacional e renovar seu mandato através do
voto e eleger uma nova liderança;
II. Exigir o estabelecimento dos demais órgãos da
transição, incluindo um Governo de base alargada de Unidade Nacional, e definir
as tarefas urgentes e os prazos para a sua execução durante a transição de doze
meses.
III. Instar os Estados-membros para contribuir urgentemente
com tropas para completar uma “força mista” da CEDEAO composta por 629
elementos para assegurar a saída da MISSANG e realizar outros aspectos do seu
mandato.
IV. Solicitar assistência financeira imediata à
Guiné-Bissau para atender algumas contingências, incluindo o pagamento de
salários.
V. Recomendar a Comissão para intensificar a sua cooperação
com a União Africana, as Nações Unidas e outros parceiros, com a finalidade de
apoiar a transição.
VI. Para este fim, a CEDEAO recomenda o reatamento do
“Grupo Internacional de Contacto” sobre a Guiné-Bissau.VII. Decidir manter as sanções impostas à Guiné-Bissau, e a considerar a sua suspensão, depois de uma futura revisão.
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